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sexta-feira, 18 de março de 2011

Obama e o "fantasma chinês"


Conter o avanço da China na região é um dos temas da visita do presidente americano, que começa amanhã

Washington busca reconquistar mercados; Dilma visitará Pequim dentro de um mês, antes de ir a Washington


ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO

Há 50 anos, os EUA lançavam a polêmica Aliança para o Progresso, prometendo ajuda para a América Latina. O objetivo era blindar o continente das influências da revolução cubana em pleno acirramento da Guerra Fria.
Bob Kennedy, irmão do então presidente John, veio ao Brasil e perguntou sobre os comunistas infiltrados no governo. Amanhã, quando Barack Obama desembarcar no Brasil, o tema passará de novo pelos "comunistas" -agora chineses.
Nos últimos anos, a China conquistou espaço vital no comércio exterior e nos investimentos no Brasil, minguando o quinhão norte-americano. A presidente Dilma Rousseff estará daqui a menos de um mês em Pequim, que visitará antes de ir a Washington.
Uma das principais metas de Obama no Brasil deve ser tentar frear esse avanço vermelho, reconquistar parte do terreno perdido e aproveitar o crescimento do mercado consumidor brasileiro para vender seus produtos.
Na economia, o Brasil se relaciona de forma diferente com EUA e China. Se em relação a esta o país exporta commodities (alimentos e minérios) e importa de manufaturados, com os EUA o fluxo de produtos industriais sempre foi preponderante.
Ocorre que o mercado de manufaturados foi enxugado pela crise e está muito disputado -especialmente pela concorrência chinesa.
O real sobrevalorizado, que encarece a produção nacional, é o outro vetor que explica o recuo relativo das vendas externas de produtos industriais. De acordo com a Fiesp, o peso de manufaturados nas exportações brasileiras caiu de 74% em 2004 para 51% em 2010. Em relação aos EUA, no rastro desse movimento maior, o que era superavit virou deficit.
"Pioramos o nosso perfil exportador em termos de valor agregado, geração de emprego", diz Paulo Skaf, 55, presidente da entidade. Para ele, parte da solução passa por mudança na política cambial, queda de juros, investimentos em infraestrutura, reforma tributária.
De qualquer forma, com moeda valorizada e mercado interno em expansão o deficit com os EUA só deve aumentar, prevê Fernando Sarti, 46, professor de economia da Unicamp. Ele traz outros complicadores. Observa que boa parte da exportação brasileira para os EUA diz respeito ao comércio dentro das transnacionais norte-americanas, cuja lógica interna de custos, fornecimento e distribuição de tarefas muitas vezes se sobrepõe à lógica comercial entre países.
"As empresas chegaram como miniaturas das matrizes; depois passaram a ser integradas às matrizes", diz.
Aí ele enxerga outra dificuldade de Obama, que, além de achar mercado para os produtos norte-americanos, precisa gerar empregos. É que os EUA passaram por um processo de desindustrialização, com suas corporações transferindo fábricas para o exterior.
"Nem tudo que é bom para os EUA é bom para a empresa norte-americana. Vai tentar convencer uma Nike, que se internacionalizou totalmente, a produzir alguma coisa nos EUA? Jamais. E não dá para gerar emprego só no Wal-Mart", diz.
Os bons empregos nos EUA estão no setor de serviços, tecnologias de ponta. Por isso, os norte-americanos sempre insistem na questão de propriedade intelectual, lembra Sarti.
Na visita, o pré-sal também deve ter destaque. Não só no aspecto de fornecimento de petróleo. Empresas de lá têm interesse em vender equipamentos para o setor, importante para os EUA.
Ainda na questão energética, o Brasil deve colocar na mesa o caso do etanol, que busca mais espaço no mercado externo. Os históricos temas sobre subsídios agrícolas, barreiras, cotas, suco de laranja, carne, algodão são itens inescapáveis.


RECOLHIMENTO
Especialista na área do agronegócio, o ex-ministro Roberto Rodrigues, 68, também nota o evidente encolhimento norte-americano.
"Há dez anos, os EUA representavam 17% das nossas exportações agrícolas. Em 2010, foi só 8%. A China era 3%, foi para 14%. A China definiu uma estratégia. Nós não temos estratégia nenhuma, nem em relação à China."
Skaf concorda. "Estamos sob um ataque da China. Eles sabem o que querem, nós não". Na recepção em Brasília neste final de semana, Skaf tem pronta a pergunta que quer fazer a Obama: "Como Brasil e EUA devem enfrentar a China nos próximos anos?". A palavra está com Obama. E com Dilma.
Fonte: Folha de São Paulo

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